quinta-feira, 28 de maio de 2009
Maxwell: Triunfo perante industria fascista
Depois de 7 anos, Maxwell voltou. Houveram beefs e crises intermináveis porque a industria musical esta em crise e a Sony/Columbia não queria deixar o Maxwell fazer a música que ele ambicionava fazer. Independentemente do papel fundamental e peso que acarreta no neo-soul/r&b. É visto a par do D´Angelo, Erikah Badu e Jill Scott como um dos pioneiros e principais impulsionadores do Neo-soul.
O argumento é comum e os grandes cantores dos anos 90 viram-se vitimas dessa nova ordem mundial fascista: "Se não sabes dançar ou fazes musica de discoteca, não tens sex appeal adolescente e gostas de usar instrumentos orgânicos na tua musica e se tens mais de 25 anos não és relevante para o soul/r&b enquanto artista de uma editora Major". É triste. Isto já acontece há alguns anos, é o fim do espaço pra boa musica nas radios e grandes circuitos da comunicação social. Esses corporativos dizem que essa constatação é fruto de uma profunda pesquisa de mercado e que são as novas regras do jogo. Acho isso ridiculo porque talento é talento e grandes albums hão de ter sucesso sempre. Se a Amy Winehouse vende com boa musica e promoção o Maxwell também pode fazê-lo, mais ainda, o Maxwell tem uma base de fãs que ultrapassa numeros modestos. Uma base de fãs robusta, mais fiel que os peregrinos de fátima.
O Maxwell é o meu cantor favorito do género. Sinto-me priveligiado por, no decorrer da minha adolescência ter tido a oportunidade de ver musica de culto na TV. Havia espaço pra um bumbo com carapinha, ser ele próprio sem formatações, falar honestamente sobre amor, de uma forma poética e profundamente emocional. O Maxwell é o Marvin Gaye da nossa geração, mas muito mais dotado tecnicamente, apesar de não tão impactuante e diversificado liricamente. Querer formatar o Maxwell e encaixa-lo aos padrões da musica actual é mais que lamentável é criminoso. É na perspectiva de qualquer pessoa com o minimo sentido critico um dos maiores cantores de sempre no género. Nunca banalizou as palavras, nunca se formatou, nunca caiu em facilitismos de pôr vagabundas com óleo johnson nas coxas e rabos bussais nos clips, não se veste como um macaco com fios de platina e grandes logotipos pra ser "cool", deixa sempre a música falar por ele, Maxwell é um artista. Foi importante pra mim ver o Maxwell na tv ao crescer, senti-me representado. Tenho a certeza que há muitos putos na comunidade negra de hoje que não se sentem representados e que acham que esses "cantores dançantes" não são tudo que existe, e que há unidimensionalidade, pra não dizer ditadura nos critérios das radios e canais de musica. A tv insiste em mostrar apenas um lado da história, como se o mundo e as canções de amor se reduzissem a putas, perucas, jóias, sexo, óculos escuros, casacos de couro pretos e idiotas lamber os lábios, foreplay de video clip e "amo-te baby".
O Maxwell esperou 7 anos para que lhe dessem luz verde, podia ter ido pro underground vender 100,000 cópias como a grande parte dos prodigios da sua geração mas decidiu lutar contra a editora e venceu. Portanto depois de um braço de ferro de 7 anos "Black summer night´s" vem aí este ano e é o primeiro de uma trilogia.
O primeiro single PRETTY WINGS é doentio e das melhores musicas dentro do género que ouvi nos ultimos tempos (se calhar é o Ne-yo e o Chris Brown que conseguem fazer isto) :
Deixo-vos também com a versão ao vivo do "This women´s Work" cover da Kate Bush, uma das maiores actuações vocais que vi de uma das mais originais vozes femeninas o que faz com que a performance seja ainda mais especial:
De acordo com Nietzsche já no século 19 era assim...
Léxico -Industria Musical; Neo-soul/R&b; Maxwell; Triunfo; maiores cantores de sempre;
Salvamarte
sábado, 23 de maio de 2009
Spring Awakening - o musical
Não sou grande fã de musicais. Achei o "Chigaco" sonolento e o "Moulain Rouge" deixou-me com paludismo, desculpem, malária. E não vale a pena virem-me dizer que "aaah mas os filmes da disney são bons e as peças que daí advêm são melhores ainda". Concordo. É preciso não ter tido infância para não sentir de um "Aladin" ou um "Peter Pan". No natal passado, confesso ter-me empaturrado de rabanadas enquanto via o kung-fu panda, foi acontecendo, 3x em 2 dias seguidos. geralmente não deixo a minha prima Ana monopolizar o comando dessa maneira, mas ela queria repetir e eu acenava dando-lhe permissão. É uma boa estória, tem um anti-herói obeso, traição, drama, comédia, parvoíce em doses pertinentes e ainda sobra espaço pra moral. Não há como não sentir esses mambos. Mas olhando com toda a justiça, isso não são bem musicais, são bonecos. "aaah mas e o "musica no coração etc.." ..." sei que muita gente vai-me querer decapitar em praça publica por isto, mas sempre achei essas mariquices de começar a cantar no meio do enredo á toa um bocado non-sense e depois essas histórias são sempre bué formatadas -tudo bué encenado, hiper-dramático em vão e sobretudo banais.
O Spring Awakening é pra mim a excepção. A peça gira a pouco tempo e no seu modernismo encontra-se a sua maior virtude. É uma tragédia dos tempos modernos que se passa numa altura indeterminada do passado. O cenário é simples assim como a musica (rock/pop e muitas baladas)
e entendo que assim seja porque o objectivo é que as pessoas se foquem na história ao invés do aparato. Esta, gira em torno de um colégio radical e autoritário, de uma sociedade burguesa em que aquilo que interessa é manter as aparências e salvaguardar o status quo a todo custo. Os alunos do colégio são as personagens principais e aqui é que a coisa se torna interessante, são adolescentes confusos que manifestam com canções pop e um guião macabro as pressões da sua comunidade, dos pais, da escola e das transformações e desejos hormonais caracteristicos dessa fase. São coisas em que todos nos podemos rever porque passamos todos por elas. O melhor aluno da escola e o seu maior rebelde, vai pelo nome de Melkior Gabor e nele encontra-se o maior ingrediente de sucesso da peça, que é a forma apaixonante com que ele desafia a autoridade, seja ao "aquecer" damas, com entradas filosóficas no seu diário ou com canções de protesto. Vai mandando punchlines á ditadura do ensino, de como a escola não nos prepara para a vida, ao autoritarismo parental entre outros tópicos. O musical explora outros temas não menos importantes a partir dos restantes estudantes e respectivas familias: violência doméstica, pedófilia/incesto, homossexualidade e amor adolescente.
Fa-lo de uma forma cómica, dramática, comunicativa e musical sempre nesses moldes e triunfa como poucos musicais porque toca em assuntos muito sérios duma forma...íntima, familiar, simples.
Não sei como é que eles conseguiram fazê-lo mas temos actores adolescentes que não se coibem de se masturbar, beijar , temos mamas á mostra, e simulação de sexo, sem ser muito cru diga-se, mas é duma audácia e eficácia implacável.
Isto não é nada de novo narrativamente, já foi tudo escrito também, a graça ta na abordagem. A peça tem moldes de Romeu & Julieta, mas de uma forma menos condensada e poética. Talhado milimetricamente para a geração ipod, altamente comunicativo e visual, sem nunca desrespeitar as palavras e sem os adlibs e exageros dramáticos que são estereotipicos no teatro. Por essa e pelas razões que já descrevi, Spring Awakening é revolucionário e esse hype que encheu a cidade de Londres, em que até os jornais mais severos deram 5 estrelas ao mambo é para variar, perfeitamente justificado. clássico.
Salvamarte
quinta-feira, 21 de maio de 2009
Confissões de um Sportinguista: Análise do Sporting
Análise da Época do Sporting:
potênciais Presidentes, figuras e estratégias
Dias ferreira é um emotivo com rasgos de desiquilibrio fanático. Eu via "O dia seguinte" e esse nigga para além de ser sempre parcial msm quando o sporting joga mal é bué débil enquanto analista de futebol. Não sinto isso. Aprecio o Dias Ferreira porque é um mano real-talk, veste o coração na algibeira e diz sempre o que pensa. Pena que a maioria dos pensamentos, tenham apenas isso, paixão, as x ele esquece-se da lógica mas é bem intencionado. Temos de dar props e acarinhar o mano por ter sempre os interesses do Sporting no topo das prioridades.
Acusavamos o Soares franco de ser um burguês, um corporativo, que só sabia pensar no futuro, no futuro, no futuro do Sporting. Frio, um homem dos negócios que tinha demasiada razão, a quem faltava uma certo carisma, talvez por essa falta de emotividade. O homem apresentou como bom Português um plano de poupanças e de contenção e um tal de "project finance" que muita gente comenta, mas pouca gente entende que enfatiza precisamente a contenção. Mais uma vez, o sporting de Soares Franco não esteve ao nivel e não foi pela contenção, acho muito bem que haja contenção, Portugal é um país pobre, temos de ser realistas e nesse contexto comedidos. O Sporting de Soares Franco falhou porque Franco não é um Líder, não esta talhado para ser presidente, é um economista, é um homem de numeros que consegue com toda a clareza explanar teorias e metodos económicos, mas sofre por outro lado, de um profundo humanismo futebolistico, não se sente isso no mano. Ele parece não ter chama ou não sabe como mostra-lo como um lider deve, atributos que Pinto da Costa e Luís Filipe Viera têm de sobra, e os adeptos sentem-no, são homens das massas que não se carregam a tempo inteiro como corporativos, como é o caso do Soares Franco. Acima de tudo, aqui é que está a punch-line, como típico homem dos numeros, não entende nada de recursos humanos, e vê como solução a desresponsabilização, ou seja, dar as chaves do balneário ao Paulo Bento. Completa e total hegemonia à pessoa menos dotada e equipada para o fazer. Passo a explicar: PAULO BENTO - foi um grande jogador, inteligente e pensativo, mas nasceu pra isso mesmo, ser jogador. É um péssimo comunicador, mau gestor das motivações dos jogadores, insiste num método de punição e sistema de jogo unidimensional sem ponderar alternativas, não respeita os adeptos ou a comunicação social porque não sabe ou não se dá ao trabalho de explicar os seus métodos e ideias (sente-se limitado porque tem dificuldade em fazê-lo então usa a arrogância como escudo clamando que não tem de se jusficar - O ferguson, Wenger e Benitez justificam-se mas o Bento acha que não deve isso à massa associativa). Para além de inexperiente, para além de não ter curriculo (aquilo que fez nos juniors não é justificação para ser treinador senior). Enfim, Bento é um amador. Bento é um homem que prefere trilhar por um caminho que sabe ser errado, só para provar que é consistente. Infelizmente consistência de táctica e consistência de método de castigo e punição não dão campeonatos ou proporcionam bom futebol ou "tranquilidade". No Futebol tal como na vida é preciso sabermo-nos adaptar para atingirmos os nossos objectivos, isso é elementar para a sobrevivência. Portanto,Paulo Bento é um homem...Obtuso.
Ao menos com o peseiro o Sporting era conhecido por jogar um futebol bonito, elegante, fluido. Com Bento o Sporting quebrou records: trivia - O paulo Bento bateu o record da liga dos campeões - O Sporting é a equipa que mais golos sofreu numa eliminatória, em toda a história da liga dos campeões. Desculpem o coloquialismo: fode-seeeeeeeeeee! . 12 a 1! lol. Soares Franco não pode estar a ser serio e a ver Paulo Bento como uma comodidade do ponto de vista humano, está a ver Bento como um número, um treinador barato que não vai custar muito a pagar ao fim do mês, mas que ao fim do ano lhe custou a presidência. Essa é a realidade do Sporting.
José Bettencourt - É o grande arquitecto dos bastidores. O homem responsável pela vinda dos nossos grandes jogadores, aqueles que nos deram titulos e que nos fizeram ter orgulho do nosso futebol de marca, aquele que Bento desconstruiu, Futebol tecnico, fluido e bonito. Bettencourt é também um homem ponderado, percebe muito de futebol o que o torna na minha perspectiva o homem ideal para liderar o Sporting.
Tem know-how, experiência, paixão futebolistica, visto como um herói pelos sportinguistas, é a combinação de soares franco com dias ferreira sem o ar de taberneiro que o Dias da Cunha conserva e sem a fala abstracta "o sistema, o sistema, booo". É a simbiose da razão com os niveis certos de emotividade. tenho pena que seja um dos defensores de Bento, toda gente sabe que enquanto tivermos Bento como treinador, jamais seremos campeões. O FC Porto tem um presidente lendário, estabilidade, estratégia, estrutura e sem ser Alex Ferguson, Jesualdo é no entanto um Professor, um belo treinador, sabe muito da bola, anda nessa vida há muitos anos, lembro-me da porrada tactica que deu ao Sporting de Bento quando ainda estava no Braga, quanto mais agora com este tipo de recursos. Enquanto Bento for treinador do Sporting, enquanto formos unidimensionais e medievais no staff do Sporting, jamais seremos campões. Esta mais uma vez é a realidade do Sporting.
Salvamarte / Charlie Bartlett
quarta-feira, 20 de maio de 2009
Hiphop Hall of Fame - Melhores MC´s de sempre
HIPHOP HALL OF FAME
Melhores Mc´s de sempre vol. 1
Por mais eclética que seja a minha paixão pela musica, o Hiphop vai ter sempre o toque de midas pra mim. É a minha fundação, a minha base e investigando os corredores da minha memória, há poucas coisas que tenha estudado tanto ou pelas quais preserve tanta afeição.
Eu amo hiphop, em particular RAP. E é sobre RAP que as entradas "Melhores MC´s de sempre" se vão tratar. Rap no sentido clássico é Ritmo(flow), arte e poesia e é essa noção que vamos respeitar nestas entradas.
Fazer rap é como tudo, qualquer pessoa pode cantar, dançar, jogar futebol, foder, fazer esgrima e sapatear, atingir o cúmulo nessas actividades é que é a derradeira magia. Atingir o zénite, o olimpo é para uma minoria apenas.
Hoje na era globalizada, raramente se vê fans de rap, todos são bloggers e criticos, quando ouvem rap a 3 anos e ouviram 15 albums. Assim como há a trivialização de análise também se deu a banalização do rap. Há milhares, todos querem o pote como o tio Patinhas mas só alguns são dignos do ouro. Eu comecei a ouvir Rap em 93, tinha 10 anos na altura e sem fundamentalismos vou escrever sobre os melhores rappers de sempre, tanto Americanos como da Lusofonia.
Em conclusão, importa salientar que estas entradas não são para avaliar albums, ou beats, é sobre uma causa muito maior, é a causa da comunicação, das palavras, do texto, do liricismo, das punchlines, do flow e de como estes MC´s especialissimos usaram essas tecnicas nos beats, porque essas tecnicas é que fazem o Hiphop ser Hiphop. Não são os beats, porque esses são apenas musica e musica nós podemos encontra-la em todos outros géneros. Digo isso sem desrespeito aos Djs, musicos e artistas que são elementos crucias do Hiphop, mas não podemos esperar que o baixista do dos beatles tivesse o mesmo impacto e relevo que o lennon e o mccartney assim como não podemos esperar que o massagista do messi tenha a mesma importância que o seu skill.
Viva o rap!
Salvamarte
léxico: HIP-HOP - MCS - RAP - HALL OF FAME - LENDAS
futuras entradas: EMINEM & ROYCE DA 5´9 / CROOKED I/ RAS KASS
Salvamarte
sábado, 16 de maio de 2009
MIND THE GAP/Metro Londrino: os fantasmas do primeiro Mundo
MIND THE GAP
Parte 1
No outro dia no metro, voltava com cerca de 5 amigos de um concerto e surgiu uma situação curiosa. Era domingo á noite e os semblantes dos passageiros da carruagem estavam visivelmente cansados, intui como qualquer outro intuíria, que é banal estar fatigado ao final de um dia de actividades comuns de fim de semana.
Estava no entanto um casal de idosos de pé, perante uma carruagem lotada, sem mais lugares vagos. Eu sou aluado por natureza, estou sempre a entreter uma qualquer noção e perdido em multi-funções, geralmente com algum tipo de revista na mão, musica nos ouvidos e a decifrar se tenho fome e o que vai ser o jantar. Chamemos-lhe a natural alienação da vida na metrópole. Londres nesse aspecto é implacável.
Mais adiante, começamos a falar de como nós que tivemos uma educação Angolana/Portuguesa somos mais sensíveis ao próximo, e em geral mais respeitosos e gentis com os idosos, Mães, deficientes etc. nos transportes publicos.
Estudei há tempos numa cadeira qualquer, que as Comunidades Anglo-saxónicas são das mais individualistas do mundo. Em Àfrica,Grande Àsia, América Latina e a Europa na sua maioria, devido á influência combinada da religião e de estados paternalistas, somos mais colectivistas. Um dos meus amigos reparou na situação e comentou: "Ainda bem que eu não cresci aqui" mantive-me calado, mas na minha mudez também me senti aliviado por não ser tão desligado.
De facto aqui no "primeiro mundo" o Metro funciona como uma anarquia organizada, e é nessa contradição que repousa o seu fascinio. Gentes de todo mundo, étnias, tamanhos e cores a regurgitar palavras oriundas de todos os cantos do planeta. Juntemos a isto o facto de que Londres engendrou o metro e que a esta altura é demasiado pequeno e desactualizado para a quantidade de gente que a cidade atrai. Não há ventilação e o efeito sardinha nas carruagens já é dado adquirido para quem visita ou habita em Londres.inevitável. E como visitar o Sahara e não levar uma chapada de calor. Acrescentemos-lhe a "cultura individualista Inglesa", ou como diria a minha Mãe o busalismo/matumbice alienada Britânica e temos uma torre de babel ou devo dizer, metro de babel em caos organizado. Honestamente eu não sou de grandes mariquices e até curto andar de metro, mas vejo pertinência nas razões de quem odeia.
Nas sociedades de consumo, realidade cada vez mais universal, especialmente nos grandes icones: Nova Iorque, Toronto, Tokyo, Londres, nos dias de trabalho no contexto dos transportes é como se não vissemos pessoas, é como se vissemos fantasmas. Como se passassemos por vultos, objectos que nos atrapalham a rota, como obstaculos de salto numa pista de atletismo. Quando me distraio, também me comporto como um zombie e quem tá ao meu lado não existe, não interessa, como eu certamente não existo para essa pessoa, sou apenas um estorvador. Uma esmagadora maioria por necessidade entre uma minoria por gosto, corre desenfreadamente, com os seus capuccinos e cafés anesteziantes que pensam ter comprado via "fair trade" numa qualquer transnacional aldrabona nos transportes rumo á sua plantação corporativa. Sem tempo de apreciar que formato de nuvem interessante a natureza traçou nesse dia. Sem tempo de desfrutar da relva, do sol, de um sorriso ou de como tenho enfatizado de ser cordial. Enquanto humanos somos apenas falíveis daí a só nos tornarmos peritos em seja o que for a partir da repetição. Então rumo ao trabalho aqui em Londres as pessoas tornaram-se peritas em alienação, peritas em individualismo, peritas em indiferença ou como voltando a analogias familiares, diria talvez a minha Avó, peritas em fantasmagorias(no sentido em que se tornam frias, máquinas, robots, indiferentes). Eu também, de quando em vez, dou pra fantasma, portanto peço encarecidamente, se me apanharem nesses facilitismos e me reconhecerem em actos "fantasmagóricos alienados" que me espetem uma boa bofa, para que me lembre de que afinal ainda sou humano e que sem os outros, sem a sociedade, nada faz sentido.
MIND THE GAP
Parte 2
A dada altura da conversa, a namorada de um dos meus amigos perguntou-me, se tenho "educação" e não sou inglês porque é que não me levantei para dar lugar aos idosos após ter reconhecido a situação. Não me apeteceu justificar na altura, escarrapei-me com uma qualquer desculpa. Por um lado porque tinha de me explicar a um nivel filosófico, segundo porque ia gerar debate e não me apetecia e terceiro estava perto do me destino.
Passo a explicar. Em primeiro lugar olhei para a cara dos idosos e reparei que estavam relaxados a conversar e tornou-se claro pra mim que não havia ofensa, não senti ultraje por estarem a fazer o trajecto de pé sem que ninguem oferecesse o seu lugar. posso estar a ser ingénuo, afinal, não entendo a lingua deles.
Segundo lugar, acho hipócrita esse moralismo de que "eu sou melhor pessoa do que tu porque dei o meu lugar ao velho" "sou superior na condição de mais educado, na condiçaõ de ter mais modos" de onde é que vem e pra quê esse moralismo? Quando esses pequenos gestos apesar de importantíssimos em pouco ou nada mudam comportamentos ou têm relevo em termos de impacto profundo. Eu olho pra muitos desses "Super Educados Moralistas" e sinto que muitas vezes fazem as coisas:"sorrir";" "abdicar do lugar" "ser simpático ou cordial" dever por mera educação porque foram ensinados que é assim que se faz e quando o fazem, fazem-no motivados por esse gatilho. Escravos de uma noção de "suposto ser" e tornam-se actores nos seus papéis sociais. Vitimas de condicionamento. Não me interpretem mal, educaão é fundamental, todos nós somos condicionados, mas até onde é que deixamos de ser nós próprios e passamos a ser actores como se tivessemos a posar numa revista pop de publico alvo adolescente ou num filme de hollywood 24h do dia?
Prefiro uma pessoa genuína, real talk, que se carregue como é, que não passe a vida a mostrar os dentes amarelos, que me diga o que realmente sente, porque "não há nada mais bonito do que expressarmos o que sentimos", que não faça as merdas por esse sentido de responsabilidade vazio e em ultima análise inconsequente porque quando se fazem as coisas por dever não por vontade, sente-te. Essa gente "bem comportada" gosta de se fazer passar por elitista, passeia-se com excesso de formalidade e etiqueta com um pretenciosismo burguês que não já não sendo falso por repetição abundante, faz deles prisioneiros, a vida passa a girar em nome desse código de conduta, a vida passa a ser escrava dessas banalidades e perde-se a perspectiva do quadro, do sentido, que é ser espontâneo, sincero, puro e verdadeiro.Esses que sorriem pra toda gente, ajudam no metro e que gostam de apontar o dedo a quem não o faz, se calhar não é bom amigo, se calhar raramente olha pra além dos seus interesses e cogitações, e se calhar raramente se coloca numa posição de vulnerabilidade em que realmente ajuda os outros e vice-versa. A punch-line é não jugarmos o caracter dos outros a partir de banalidades.
Pra mim há que fazer a distinção entre ser livre e ser seguidista. A pessoa livre pode não sorrir á toa e ser o cumulo da benevolência a partir do seu trabalho, do que diz, do que faz, do que pensa e escreve e isso não se manifestar em pequenos gestos de etiqueta social. Essa pessoa benevolente é capaz de estar no metro e não se levantar em prole do idoso porque não se sente obrigada a fazê-lo enquanto o seguidista pode abdicar do seu lugar na superficialidade dos gestos sociais e depois chegar á cara da mulher no aconchego do lar escondido dos papéis socias.
Há uma diferença entre ter compaixão e ser apenas educado. O educado faz por dever, aquele que tem compaixão fa-lo por amor ao próximo. Portanto não sentindo compaixão eu não vou fingir que quero muito abdicar do meu lugar só para que as pessoas pensem que sou benevolente. Se tu sabes quem tu és e tas confortável com isso, não finges amor. Acho mais humano quem não se levanta do que quem se levanta ou sorri por dever.
Finalmente, há uma diferença entre ser boa pessoa e ser bem educado. Toda gente pode ser formatada a ter educação, agora ser boa pessoa, isso tem de partir de dentro.
Sinto que não vale a pena julgar quem não se levantou ou quem não passa a vida a sorrir, porque nunca se sabe, pequenas interações não definem o nosso caracter.
È engraçado que abdicando de julgamentos estupidos nos transportes publicos e em situações socias, tipo "tas a olhar pra minha namorada vamos lá fora lutar" como podemos estar mais proximos uns dos outros, ser mais puros uns com os outros, mais a vontade em sermos livres uns com os outros. As vezes levanto-me no metro, ás vezes não, depende do dia, depende da situação, da minha intuição, há dias em que tou mais fantasmagórico que outros, há dias em que sinto mais compaixão que outros, como ensina o documentario classico, há dias em que tenho o "zeitgeist" mais ligado que outros. Mas independente da forma que agir, quero fazê-lo porque quis. Temos de ser livres, senão vamos todos pra escola de teatro.
Salvamarte
Salvamarte aka Peter Pan
Para quem nunca se levanta no metro, acho que só devem continuar a fazê-lo se discordam desta frase(o que acho muito dificil):
Tolstoi "A vocação de todo homem e mulher é servir os outros"
Deixo-vos com uma das Minhas musicas favoritas de Blackstar, que entre outras coisas fala do que escrevi, especialmente no Refrão:
MOS DEF & TALIB KWELI - BLACKSTAR - THIEVES IN THE NIGHT
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