sábado, 23 de maio de 2009
Spring Awakening - o musical
Não sou grande fã de musicais. Achei o "Chigaco" sonolento e o "Moulain Rouge" deixou-me com paludismo, desculpem, malária. E não vale a pena virem-me dizer que "aaah mas os filmes da disney são bons e as peças que daí advêm são melhores ainda". Concordo. É preciso não ter tido infância para não sentir de um "Aladin" ou um "Peter Pan". No natal passado, confesso ter-me empaturrado de rabanadas enquanto via o kung-fu panda, foi acontecendo, 3x em 2 dias seguidos. geralmente não deixo a minha prima Ana monopolizar o comando dessa maneira, mas ela queria repetir e eu acenava dando-lhe permissão. É uma boa estória, tem um anti-herói obeso, traição, drama, comédia, parvoíce em doses pertinentes e ainda sobra espaço pra moral. Não há como não sentir esses mambos. Mas olhando com toda a justiça, isso não são bem musicais, são bonecos. "aaah mas e o "musica no coração etc.." ..." sei que muita gente vai-me querer decapitar em praça publica por isto, mas sempre achei essas mariquices de começar a cantar no meio do enredo á toa um bocado non-sense e depois essas histórias são sempre bué formatadas -tudo bué encenado, hiper-dramático em vão e sobretudo banais.
O Spring Awakening é pra mim a excepção. A peça gira a pouco tempo e no seu modernismo encontra-se a sua maior virtude. É uma tragédia dos tempos modernos que se passa numa altura indeterminada do passado. O cenário é simples assim como a musica (rock/pop e muitas baladas)
e entendo que assim seja porque o objectivo é que as pessoas se foquem na história ao invés do aparato. Esta, gira em torno de um colégio radical e autoritário, de uma sociedade burguesa em que aquilo que interessa é manter as aparências e salvaguardar o status quo a todo custo. Os alunos do colégio são as personagens principais e aqui é que a coisa se torna interessante, são adolescentes confusos que manifestam com canções pop e um guião macabro as pressões da sua comunidade, dos pais, da escola e das transformações e desejos hormonais caracteristicos dessa fase. São coisas em que todos nos podemos rever porque passamos todos por elas. O melhor aluno da escola e o seu maior rebelde, vai pelo nome de Melkior Gabor e nele encontra-se o maior ingrediente de sucesso da peça, que é a forma apaixonante com que ele desafia a autoridade, seja ao "aquecer" damas, com entradas filosóficas no seu diário ou com canções de protesto. Vai mandando punchlines á ditadura do ensino, de como a escola não nos prepara para a vida, ao autoritarismo parental entre outros tópicos. O musical explora outros temas não menos importantes a partir dos restantes estudantes e respectivas familias: violência doméstica, pedófilia/incesto, homossexualidade e amor adolescente.
Fa-lo de uma forma cómica, dramática, comunicativa e musical sempre nesses moldes e triunfa como poucos musicais porque toca em assuntos muito sérios duma forma...íntima, familiar, simples.
Não sei como é que eles conseguiram fazê-lo mas temos actores adolescentes que não se coibem de se masturbar, beijar , temos mamas á mostra, e simulação de sexo, sem ser muito cru diga-se, mas é duma audácia e eficácia implacável.
Isto não é nada de novo narrativamente, já foi tudo escrito também, a graça ta na abordagem. A peça tem moldes de Romeu & Julieta, mas de uma forma menos condensada e poética. Talhado milimetricamente para a geração ipod, altamente comunicativo e visual, sem nunca desrespeitar as palavras e sem os adlibs e exageros dramáticos que são estereotipicos no teatro. Por essa e pelas razões que já descrevi, Spring Awakening é revolucionário e esse hype que encheu a cidade de Londres, em que até os jornais mais severos deram 5 estrelas ao mambo é para variar, perfeitamente justificado. clássico.
Salvamarte
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